Gênero. Esta palavra, nos últimos tempos no Brasil, tem gerado muitos aperreios, muitas discussões. Fala-se de ideologia de gênero, ditadura de gênero e, na maior parte das vezes, não se sabe direito do que se está falando.
O primeiro passo é entender do que se fala e, nesse sentido, é fundamental ter em mente alguns termos, a saber: sexo biológico, gênero, sexualidade, identidade de gênero. Pois bem, agora é o momento de lembrar, a você que lê este texto, que o objetivo aqui é expor elementos para que possamos compreender um pouco mais o que se está debatendo, discutindo e não convencer sobre qualquer ideia, pensamento ou teoria.
SEXO BIOLÓGICO
É a característica física, principalmente externa que diferencia um macho de uma fêmea. De maneira bem direta: diz respeito à genitália com a qual se nasce. Levando em consideração essa definição, a frase não seria “é um menino!”, “é uma menina!” e sim “é um macho!”, “é uma fêmea!”. Afirmar que é menino ou menina é a inserção de cultura no que é biológico.
É assim: a partir da identificação da característica física começa a organização do mundo ao redor da futura criança. Acompanhe: identificou a presença de um pênis, escolheu um nome que se relacione com o órgão genital, será João, José, Antonio, Roberval e não Maria, Joana, Carla ou Jezebel, pois estes últimos seriam “nomes de menina”.
O enxoval será recheado de peças de cor azul e suas variações. As estampas das roupas provavelmente terão a imagem de um super-heroi, um personagem portador de um pênis tal qual a criança nascerá com um. Uma vez tendo nascido, lhe será ensinado como meninos devem agir, falar (a clássica frase: “fale feito homem!”). Será levado a jogar futebol ou qualquer esporte que se caracterize primordialmente pelo uso da força.
Isso é GêNERO, ou seja, a atribuição de elementos culturais às características físicas com as quais se nasce. Gênero é construção histórica, é comportamento atribuído a partir da genitália. É quando se diz que “menina é delicada e menino é porco mesmo!”. É o processo de naturalização de ações, de formas de sentir e de pensar que são elaboradas socialmente, não se nasce sabendo ser homem ou mulher mas se aprende.
Como temos uma herança natural, animal, feito outros mamíferos, então reproduzimos e nossa reprodução é por via física, de intercurso sexual. O sexo teria, então, função reprodutiva. Pois bem, pensemos sobre isso: a finalidade do sexo é a reprodução e para a geração de descendentes férteis é necessário o contato entre pênis e vagina, entre macho e fêmea, entre homens e mulheres.
Esse contato caracteriza-se pelo prazer (sem ser gostosinho, provavelmente não seria atraente) que nos leva a querer praticar o ato. Entretanto, é importante considerar que nossa espécie superou as designações da natureza, o determinismo das funções naturais da atividade sexual (outras funções naturais também foram superadas e não apenas a sexual) e, a partir da cultura – que nos diferencia de outros animais – atribuiu outros sentidos ao ato.
Além da função reprodutiva, o ato sexual recebeu outra função: a recreativa, ou seja, praticamos sexo sem obrigatoriamente desejarmos gerar descendentes fertéis. Você, provavelmente, ao namorar não dá beijinhos no seu namorado/a com a ideia de ser pai/mãe mas sim porque aquele beijo te dá “um negócio massa!” que te faz desejar outras vezes e outras pessoas também (ou não).
Quem se deseja é parte da sexualidade, ou seja, sexualidade diz respeito à orientação do desejo, ao que atrai você em outra pessoa. Costuma-se definir esse desejo a partir do binarismo, podendo ser este de duas perspectivas, a saber: binarismo sexual (heterossexual – homossexual) e binarismo de gênero (feminino – masculino).
Pense na seguinte situação: digamos que você é uma moça e, durante a aula a porta é aberta e por ela passa um rapaz e, sem que você controle, sua barriga fica fria, você tenta desviar o olhar dele e não consegue (ou só quando ele te olha). Você sente uma vontade muito grande de abracá-lo, aliás, vontade não, desejo e, para intensificar a situação, seu coração dispara.
A partir do binarismo sexual que caracteriza a forma mais comum de orientação do desejo, a relação descrita é heterossexual, ou seja, indivíduos de sexos biológicos diferentes se atraem. Se pensarmos de acordo com a necessidade de reprodução, seria a forma mais adequada de se relacionar. Se, no entanto, pensarmos no que já foi citado acima sobre a superação do determinismo biológico e enveredarmos nos caminhos do prazer, seria UMA forma de sentir, de se relacionar. Nem melhor, nem pior, mas UMA forma.
O que foi construído historicamente é que a ÚNICA forma legítima, correta, aceita de orientação do desejo é a heterossexualidade. Como não havia espaço para outras (ou espaço de aceitação) o modelo com finalidades reprodutivas se consolidou e a partir dele foram construídas as formas de se comportar.
A identificação com as formas de comportamento atribuídas aos gêneros masculino e feminino é a identidade de gênero. Quem não se identifica com o binarismo, pode ser chamado/a não binário/a.
Sabe aquela pessoa que nasceu com pênis, foi educado como menino, se veste como se afirma que menino tem que se vestir e NÃO TEM APERREIO ALGUM COM ISSO? Pronto, essa pessoa é o que se pode chamar de CISGÊNERO, ou simplesmente CIS (a mesma descrição serve para fêmeas da espécie humana). Mas há também pessoas que não se identificam com o gênero que lhe atribuíram, a essas se pode nomear TRANSGÊNEROS ou TRANSEXUAL.
É importante que se tenha sempre em mente que essas definições compõe a ânsia classificatória humana, que é cultural e, muitas vezes, não dá conta do que a vida nos apresenta. Essa vida que não é classificável, a negação desses, por assim dizer, rótulos, é um dos aspectos da teoria queer, assunto de outra postagem.