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ARTIGOS

sábado, 1 de julho de 2017

INVISIBILIDADE SOCIAL

Tratar de invisibilidade social é abordar a vida em sociedade a partir da questão: o que é ser alguém?

Pode-se definir invisibilidade social como sendo a situação em que indivíduos / grupos não são notados. É importante considerar uma ampliação do que seria ser notado: tanto pode ser a situação em que não se vê uma pessoa por causa da função que ela desempenha no mundo do trabalho quanto pode ser a situação em que indivíduos/grupos não usufruem de direitos e as possibilidades de reivindicarem e terem suas necessidades atendidas é mínima (em extremos: nula).

O que produz invisibilidade social é a estratificação. Sendo estratificação a distribuição desigual de riqueza, prestígio e poder e, a partir desta distribuição, indivíduos ocuparão lugares sociais mais ou menos bem vistos ou bem quistos. Um exemplo que se pode dar é o do vendedor de picolé que a mãe não quer que seja seu genro ou da garota de programa que o pai não aceita como nora.

Que Horas Ela Volta? aborda, entre outros temas,
a invisibilidade social de quem exerce funções fundamentais
mas que ocupam uma posição social de baixo prestígio
Os exemplos dados mostram como no mundo do trabalho temos uma sociedade que legitima algumas profissões e não aceita outras. São as inaceitáveis que carregam amargamente o manto da invisibilidade social. É importante identificar que não aceitar não implica não precisar, pois o que se pode observar é que essa mesma sociedade que não aceita a garota de programa ou o vendedor de picolé como membros de sua família, grita pelo vendedor na praia e contrata as “acompanhantes” para animar eventos considerados de alta estirpe.

Exemplos mais contundentes de invisibilidade social no campo do trabalho são os dos garis, dos “tios e tias” da limpeza em repartições públicas, empresas etc. Para demonstrar essa invisibilidade, pergunto para você que lê este texto: sabes o nome daquele que limpa o banheiro da escola em que estudas? Da moça que está na portaria a quem você recorre para que ligue para sua família em situação de necessidade? Pronto! Acabas de entender de maneira prática a invisibilidade no campo do trabalho.

A invisibilidade social extrapola o âmbito do trabalho e está no campo da cidadania, do usufruto de direitos. Aqui podemos direcionar nosso olhar para aqueles e aquelas para quem a possibilidade de participar da riqueza coletiva (direitos sociais) é praticamente nula: são moradores/as de rua, crianças e adolescentes em situação de risco, pessoas trans, homoafetivos/as e quem não fizer parte do chamado “padrão”.

Se você já pensou, em alguma situação, algo do tipo: “mas é só ‘trombadinha’; é só uma mendiga; pra que isso tudo? É só um bêbado!” então você, sem notar, ostentou o manto da invisibilização social, invisibilização que não identifica em nenhuma dessas situações a possibilidade de existir ali um sujeito de direitos, alguém que mereceria, como se diz no cotidiano, alguma consideração.


Quem, sem saber, usa o manto da invisibilização, não percebe, mas quem é invisibilizada/o percebe com mestria o que acontece, tanto no mundo do trabalho quanto nas ruas. No primeiro caso, basta mais atenção para perceber que funcionárias/os sempre tiram a farda quando termina o dia de serviço porque dessa forma são percebidos como “gente” (pense se em algum momento você não se espantou quando percebeu que aquele rapaz tão belo é o zelador de seu prédio) e, no segundo caso, quando se conversa com eles/as e se ouve frases do tipo: adianta não, moço, a gente é nada não.


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