De tempos em tempos circula pelas redes sociais fotos de crianças estudando ou se esforçando para estudar mesmo em situação precária, desumana. Geralmente bastante compartilhadas, essas fotos enfatizam o esforço do/a jovem que, em estrutura inóspita, segue adiante em busca de “ser alguém” que só o estudo parece garantir.
Antes de seguir a leitura, um aviso: não se nega a importância e a beleza do esforço, mas se propõe outros olhares e, pode ser, que incomode seja gerado incômodo. Mas, como teria afirmado o filósofo Sócrates: uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida. Sigamos, então.
Em outras palavras, não se critica o esforço de quem “luta contra todas as adversidades”, mas se deseja chamar atenção para o que causa a adversidade em questão. É a falta de estrutura básica (direitos que deveriam ser universais) que força milhares de jovens no mundo inteiro a ter que vender verduras enquanto estudam, a aproveitar luzes de postes no meio da rua para poder resolver contas e sentar em latas de lixo porque sequer há carteiras nas escolas.
As raras situações em que alguns são bem sucedidos/as não diz, de maneira alguma, que quem não conseguiu não se esforçou, e sim denuncia a falta de condições reais para que todas/os possam “chegar lá”. O perigo do aplauso isolado de um olhar mais conjuntural é deixar subentendido que o esforço individual pode substituir as condições básicas não havendo necessidade de reivindicá-las.