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ARTIGOS

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

POR OUTRO LADO: ASSISTIR AULAS X GARANTIR AULAS – sobre as ocupações

A recente onda de ocupações nas escolas de ensino médio e universidades de todo o país expõe essa oposição e permite identificar que o usufruto dos nossos direitos pode implicar, algumas vezes, que outras pessoas não usufruam dos delas. O caso das ocupações é um deles: temos o direito à educação entrando em conflito com – uou! – o direito à educação. Grupos de estudantes ocupam escolas e as aulas são paradas. Estudantes que querem assistir às aulas questionam e acham ruim não poderem ter o direito de estudar e, mais ainda, se vêm obrigados/as a participar de um movimento que os prejudica.

Por outro lado, o que se está reivindicando é o mesmo direito à educação que os/as ocupantes se organizam para ampliar e mesmo garantir com alguma qualidade, considerando a situação precária de muitas escolas, a falta de professores/as que sejam efetivamente das disciplinas que lecionam (sabe-se que aulas de matemática são ministradas por professoras/es graduadas/os em biologia e outras variações) e contra a retirada da obrigatoriedade de aulas de educação física, artes, filosofia, sociologia (o autor deste texto treme com estas últimas).

Seria algo do tipo: estudantes que querem gozar do direito de assistir às aulas X estudantes que querem garantir a manutenção e ampliação do direito de assistir às aulas e à educação de qualidade. Essa situação de conflito é ampliada quando se classificam em “estudantes alienados/as” (os que são contra as ocupações) e “estudantes engajados/as” (os que ocupam) um grupo que é todo formado por ESTUDANTES.

Não se trata de botar gosto ruim nas ocupações ou de defender que as aulas sigam sem interrupções, mas sim de perceber as contradições, que são muito importantes para serem tratadas de forma simples (simplória) e, nesse sentido, caberiam questionamentos: a quem interessa que indivíduos de um mesmo grupo (os estudantes) briguem entre si?  Será que são alienadas/os quem não concorda em perder aulas e mesmo o ENEM? Ou seriam alienados/as os/as que foram produzidos/as por uma sociedade que passa o tempo inteiro afirmando individualismo em frases como “se eu não fizer por mim, ninguém fará!”?

Será que são baderneiros/as quem ocupa as escolas ou são aqueles/as que cansaram de ser “o futuro da nação” e decidiram assumir o projeto do próprio futuro?

A ocupação de escolas e universidades é violenta, mas pagar mal professoras/es, excluir disciplinas através de uma reforma que não dialoga verdadeiramente com quem será afetada/o não é violência?

Citando Brecht, o Bertolt:

Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Mais importante: pense sobre isso.