O que você faria se só te restasse um dia? E fosse este dia?
Estas perguntas aparecem em uma canção do Paulinho Moska que foi bastante escutada nos anos 1990 e tema de abertura de uma telenovela. Mas, mais do que entreter, a canção traz a tona um dos assuntos que mais inquietam o ser humano: o fim do mundo. O medo do fim de tudo toma proporções cada vez maiores neste século, com direito a ondas gigantescas, tremores de terra avassaladores e usinas atômicas atingidas pela "fúria da natureza".
O fim de tudo aparece em religiões, o fim está no cinema, o fim é cantado em mais de uma dezena de versos. E quem não acreditou que era o fim quando foi demitid@? E quando @ namorad@ foi embora? Parece que toda a existência é completamente obliterada em situações como estas.
Em busca de reduzir danos, a espécie humana fez – e continua fazendo – previsões. Antever o futuro, o que está por vir foi a saída encontrada para lidar com a contingência, o acaso, a incerteza. Buscando a certeza, a continuidade, tentando aplacar a insegurança foram criados sistemas de previsão complexos que não são inteligíveis a uma primeira olhada até técnicas que podem garantir caminhos seguros através da análise das linhas das mãos e das formas que aparecem na borra do café depositado no fundo da xícara.
Zodíaco, linhas das mãos, búzios, tarô. Tais manifestações da necessidade humana de controlar o acaso estão no nosso cotidiano. Os jornais têm uma seção que elenca a previsão do dia para indivíduos deste ou daquele signo. Na internet pode-se fazer uma consulta ao tarô. E, no lado oposto, estão os que afirmam que só Deus sabe o que o futuro reserva a cada um. Todos esses exemplos provam que o temor do amanhã incerto e a busca por segurança são dois lados da mesma moeda.
O medo do fim do mundo representa em uma escala global um temor que é também local. Mais que local é pessoal. Tememos a morte. E o fim de uma vida não é apenas o fim de um indivíduo. É também todo um mundo que deixa de existir com ele.
E em 2012 o temor do fim de tudo volta mais forte. Segundo alguns acreditam, em 21 de dezembro tudo será extinto. A partir de uma leitura de uma profecia maia e com o apoio de filmes catástrofe, propagou-se, mais uma vez, a ideia da proximidade do fim.
A partir de uma leitura mística, aquele calendário tornou-se pop e, principalmente, a após os anos 1990 ficou mais forte tal ideia.
E no Brasil a temática do fim do mundo está presente em livros, telenovelas e canções. No caso desta última, podemos escutar desde sambas até rock’n roll.
Carmem Miranda pode ser a primeira, cantando uma composição de Assis Valente, E o mundo não se acabou, que, de maneira bem humorada mostra as ações de alguém que ouviu anunciarem que o mundo ia se acabar:
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar...
Beijei a bôca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou...
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...
Chamei um gajo
Com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele
Mais de quinhentão...
Agora eu soube
Que o gajo anda
Dizendo coisa
Que não se passou
E, vai ter barulho
E vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou...
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar
Por causa disso
Minha gente lá de casa
Começou a rezar...
E até disseram que o sol
Ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite
Lá no morro
Não se fez batucada...
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
De aproveitar...
Beijei a bôca
De quem não devia
Peguei na mão
De quem não conhecia
Dancei um samba
Em traje de maiô
E o tal do mundo
Não se acabou...
Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar...
O Maluco Beleza, Raul Seixas, também tratou do tema em As profecias:
Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho em silêncio calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?
Está em qualquer profecia
Dos sábios que viram o futuro,
Dos loucos que escrevem no muro.
Das teias do sonho remoto
Estouro, explosão, maremoto.
A chama da guerra acesa,
A fome sentada na mesa.
O copo com álcool no bar,
O anjo surgindo no mar.
Os selos de fogo, o eclipse,
Os símbolos do apocalipse.
Os séculos de Nostradamus,
A fuga geral dos ciganos.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.
Um gosto azedo na boca,
A moça que sonha, a louca.
O homem que quer mas se esquece,
O mundo dá ou do desce.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia.
Sem fogo, sem sangue, sem ás
O mundo dos nossos ancestrais.
Acaba sem guerra mortais
Sem glorias de Mártir ferido
Sem um estrondo, mas com um gemido.
Os selos de fogo, o eclipse
Os símbolo do apocalipse
A fuga geral do ciganos
Os séculos de Nostradamus.
Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia
Um dia...
Sim, sim, sim...
Em Canção Agalopada, Zé Ramalho descreve um cenário tão medonho quanto o de Raul Seixas:
Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roncos de se ouvir
Todo o céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Na fronteira de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
E viajando com loucos pensamentos
Sete botas pisaram no telhado
Sete léguas comeram-se assim
Sete quedas de lava e de marfim
Sete copos de sangue derramado
Sete facas de fio amolado
Sete olhos atentos encerrei
Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei
Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para o mundo de leis me obrigar
A lutar pelo erro do engano
Eu prefiro um galope soberano
À loucura do mundo me entregar
Eduardo Dussek, considerado um dos primeiros showman do Brasil intitulou Nostradamus uma de suas canções que tratam do tema do fim do mundo:
Naquela manhã
Eu acordei tarde, de bode
Com tudo que sei
Acendi uma vela
Abri a janela
E pasmei
Alguns edifícios explodiam
Pessoas corriam
Eu disse bom dia
E ignorei
Telefonei
Pr'um toque tenha qualquer
E não tinha
Ninguém respondeu
Eu disse: "Deus, Nostradamus
Forças do bem e da maldade
Vudoo, calamidade, juízo final
Então és tu?"
De repente na minha frente
A esquadria de alumínio caiu
Junto com vidro fumê
O que fazer? Tudo ruiu
Começou tudo a carcomer
Gritei, ninguém ouviu
E olha que eu ainda fiz psiu!
O dia ficou noite
O sol foi pro além
Eu preciso de alguém
Vou até a cozinha
Encontro Carlota, a cozinheira, morta
Diante do meu pé, Zé
Eu falei, eu gritei, eu implorei:
"Levanta e serve um café
Que o mundo acabou!"
E mais recentemente foi exibida uma telenovela intitulada O fim do mundo que teve como tema de abertura a canção O último dia, de Paulinho Moska:
Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia
Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Corria prum shopping center
Ou para uma academia
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia
Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria
Andava pelado na chuva
Corria no meio da rua
Entrava de roupa no mar
Trepava sem camisinha
Meu amor
O que você faria?
O que você faria?
Abria a porta do hospício
Trancava a da delegacia
Dinamitava o meu carro
Parava o tráfego e ria
Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria...
Se o mundo vai acabar neste 21 de dezembro de 2012 ou em outra data, não sabemos. Mas tenha certeza que essa ideia não é tão nova que cause tanta surpresa nem tão velha que não desperte interesses.
TUDO É HISTÓRIA.