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ARTIGOS

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

DA DISCÓRDIA ou CARTA PARA UM(A) JOVEM HISTORIADOR(A)



Decidi escrever este texto movido por uma satisfação: tive vários estudantes que decidiram cursar História. Comparado com outros anos, foi um recorde: Ana Elisa,  Lucas Duarte, Cassandra Alves, Thais Cavalcanti, Valeska Ferreira, Ana Bonner... não tivera, em anos anteriores, mentes decididas a serem historiadores e historiadoras. Os campeões sempre foram Direito, Arquitetura e jornalismo. História sempre foi a segunda opção.

Movido por tamanha satisfação, decidi escrever um texto, uma carta, para esses e essas pupilas que durante o ano de 2012 auxiliei na introdução ao pensamento histórico, ao raciocínio histórico. O primeiro passo no caminho sem volta da inquietação, da indignação e, como disse várias vezes em minhas aulas: da DISCÓRDIA.

Comecemos:

1. a faculdade de História não é e nem será composta apenas por seres com incrível capacidade intelectual e percepção ampla o suficiente para relacionar situações sociais, econômicas, culturais como parte de algo maior que é a vida humana em sociedade. Você vai encontrar poucas pessoas com tais características e ACREDITE, serão raras. A maior parte vai crer e defender que uma coisa não se relaciona com a outra e, talvez pior, vai tentar isolar explicações econômicas das culturais, das ideológicas e assim sucessivamente;

2. poucos dos veteranos leram os livros que citam. Muitos afirmarão que segundo Fulano de Tal no livro Zal, a percepção da vida social deve considerar a flexibilidade do ato proletário nos interstícios das relações de poder em determinada conjuntura histórica... pffff! Desconfie desses e, se puder, leia a obra citada, pois você vai se espantar com a quantidade de “apropriações ilegais” que são realizadas a cada fala veterana. Por que isso acontece? Possível resposta: impressiona gatinhos e gatinhas sedentas por “verdadeiro conhecimento histórico”;

3.  o curso de História não é composto por maconheiros inveterados, usuários de todas as drogas psicotrópicas que existam ou que acabem de inventar; nem é o santuário das práticas sexuais desregradas, sado-masoquistas, pansexuais; tem usuários? Tem. Tem libertários e libertárias sexuais? Sim, sim. São todos e todas? NÃO, NÃO MESMO. São poucos e tem muita gente recatada por lá; isso é ruim? Não, pois garante diversidades de modos de existir – o que é muito saudável considerando que devemos respeitar toda forma de vida, quer concordemos com sua existência ou não;

4. estudantes de História não são revolucionári@s engajad@s contra qualquer forma de opressão, seja ela do capital, das diversas religiosidades; muit@s serão, inclusive, bastante passivos diante das desigualdades que grassam pelo mundo ao redor; motivo? Com pouca certeza, afirmo que muitos devem crer que muda-se o mundo com as ideias e, estas, criadas por alucinógenos encadernados em livros que mal foram lidos e colocados em prática e, pior ainda, não foram problematizados;

5. não espere que suas aulas serão marcadas por intensos debates, por confrontos de ideias pois elas não serão – NA MAIOR PARTE DAS VEZES; poucos serão @s professores e professoras que aceitarão o benefício da dúvida, que ouvirão com paciência suas perguntas pouco amadurecidas (pelo menos serão no início do curso  e espera-se, pelo bem da sociedade, que essa imaturidade seja superada) e te orientarão sugerindo leituras profícuas para te fazer pensar fora da caixa; mas nem sempre o debate deixa de acontecer por responsabilidade de mestres, muitas vezes os textos sugeridos não são lidos prejudicando o andamento da aula. O que nos leva para o próximo tópico:

6. LEIA! LEIA! LEIA MAIS! LEIA MUITO MAIS! LEIA SEMPRE! LEIA HOJE, LEIA AMANHÃ, LEIA ATÉ SE VOCÊ FOR ACOMETIDO DE CEGUEIRA (você pode aprender braile ou escutar áudio livros). Me irrito muito quando vejo estudantes de História se queixando de terem que ler um texto de dez páginas. Dá vontade de agir feito o capitão de determinado filme e puxar o verme subterrâneo pelos cabelos, esfregar sua face em um compêndio e dizer: FEZ VESTIBULAR PRA HISTÓRIA PRA QUÊ? SE NÃO AGUENTA, PRA QUE VEIO?! PEDE PRA SAIR! PEDE PRA SAIR! “MULEQUE!” “MULEQUE ANALFABETO!”

Costumava dizer, em minhas aulas, que só a História salva... da mediocridade, da estupidez, da ignorância. Para tanto, a leitura, compreensão e problematização (NESSA ORDEM) são pontos fulcrais.

7. por mais que você tenha lido muito, você não leu tudo, logo não sabe de tudo. Baixe a cabeça e... vá ler mais e debater com outras pessoas. Certa vez ouvi alguém dizer que quando um historiador quer cometer suicídio ele pula de cima do próprio ego. Faz muito sentido. Conheci pessoas que leram alguns livros – e nem leram bem – e começam a olhar outr@s que não leram aqueles livros específicos como se fossem párias;

8. não tente impor seu modo de pensar pois ele não é a perfeita representação da realidade. Pode até ser para você, mas não para outras pessoas; quando alguém discorda do que você pensa, essa pessoa pode, após o “conversê”, sair com você para ir ao cinema, dançar ou conversar sobre coisas aleatórias pois para ter amizades que concordam com tudo que eu penso, eu prefiro prosear com meu reflexo no espelho;

Poderia continuar listando, mas nunca terminaria essa carta/texto/conversa, então concluo pedindo a tod@s que foram meus alunos e alunas e especialmente para @s que estudaram no meu curso e ingressarem na faculdade de História (ou qualquer outro curso -  não excluo ninguém, mas, História é sempre melhor – no meu entender):

DISCORDE.

Se viu que não está correto, DISCORDE.

DISCÓRDIA (que tanto falo em minhas aulas) é mais que contrariar. É uma postura, uma atitude pautada no respeito ao próximo e na ação para mudança. No falar quando há silêncio imposto, no se preocupar se o som que você gosta não incomoda seu vizinho, no evitar cuspir na rua sem olhar se há alguém que possa ser atingido.

DISCORDAR é remar contra a maré das homogeneizações, das intolerâncias religiosas, das intolerâncias ateias, das criminalizações, das naturalizações do que não natural.

DISCORDAR é PENSAR FORA DA CAIXA e isso nenhum curso, nenhum professor vai te dar. Você tem que se forjar no cotidiano, sabendo que nem sempre – e essa é a maior parte – sua ação vai ter resultado imediato, sua fala vai ser compreendida.

DISCORDAR é PENSAR FORA DA CAIXA e TER HISTÓRIA NA CABEÇA pode ajudar.

Conseguir isso é ser mais que Historiadores e Historiadoras, é se tornar HISTORIADEUSES E HISTORIADEUSAS.

Bom curso e que Clio esteja com vocês .

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CONHECIMENTO LIVRE


Dia 11 de janeiro cometeu suicídio (ou foi suicidado) Aaron Swartz, um dos mais importantes ativistas defensores do conhecimento livre na internet... Escrevo suicidado pois há suspeitas que ele não tenha cometido suicídio.

Aaron estava sendo processado por ter baixado mais de 4 milhões de documentos científicos e literários de uma plataforma que os liberava mediante pagamento.

Ele foi co-autor do sistema de feeds e defendeu o livre pensamento e o conhecimento livre.

Defendo a postura dele e reproduzo o MANIFESTO DA GUERRILHA PELO ACESSO LIVRE:

“Informação é poder. Mas, como todo o poder, há aqueles que querem mantê-lo para si mesmos. A herança inteira do mundo científico e cultural, publicada ao longo dos séculos em livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corporações privadas. Quer ler os jornais apresentando os resultados mais famosos das ciências? Você vai precisar enviar enormes quantias para editoras como a Reed Elsevier.

Há aqueles que lutam para mudar esta situação. O Movimento Open Access tem lutado bravamente para garantir que os cientistas não assinem seus direitos autorais por aí, mas, em vez disso, assegura que o seu trabalho é publicado na internet, sob termos que permitem o acesso a qualquer um. Mas mesmo nos melhores cenários, o trabalho deles só será aplicado a coisas publicadas no futuro. Tudo até agora terá sido perdido.

Esse é um preço muito alto a pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google possa lê-las? Fornecer artigos científicos para aqueles em universidades de elite do Primeiro Mundo, mas não para as crianças no Sul Global? Isso é escandaloso e inaceitável.

“Eu concordo”, muitos dizem, “mas o que podemos fazer? As empresas que detêm direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobrança pelo acesso, e é perfeitamente legal – não há nada que possamos fazer para detê-los. Mas há algo que podemos, algo que já está sendo feito: podemos contra-atacar.

Aqueles com acesso a esses recursos – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês foi dado um privilégio. Vocês começam a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas vocês não precisam – na verdade, moralmente, não podem – manter este privilégio para vocês mesmos. Vocês têm um dever de compartilhar isso com o mundo.  E vocês têm que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.

Enquanto isso, aqueles que foram bloqueados não estão em pé de braços cruzados. Vocês vêm se esgueirando através de buracos e escalado cercas, libertando as informações trancadas pelos editores e as compartilhando com seus amigos.

Mas toda essa ação se passa no escuro, num escondido subsolo. É chamada de roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimentos fosse o equivalente moral a saquear um navio e assassinar sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral – é um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela ganância iriam negar a deixar um amigo fazer uma cópia.

Grandes corporações, é claro, estão cegas pela ganância. As leis sob as quais elas operam exigem isso – seus acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os políticos que eles têm comprado por trás aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem pode fazer cópias.

Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública.

Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilha Open Access.

Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado. Você vai se juntar a nós?

Aaron Swartz
Julho de 2008, Eremo, Itália.

P.s: Agradecimentos ao Andre Deak pelos conselhos na parte final da tradução – que, aliás, não é nem pretende ser definitiva, mas apenas uma contribuição para a divulgação do texto.

Esse texto foi extraído de:

http://baixacultura.org/2011/08/12/aaron-swartz-e-o-manifesto-da-guerrilla-open-access/