Quando os pobres apenas trabalhavam e pagavam as contas e protestavam através do rap e compravam roupas nas feiras ou nas lojas nos bairros, não havia problemas.
Com a ampliação do poder de compra da classe identificada por Karl Marx como força de trabalho e ela passou a consumir não apenas para sobreviver mas também para "ostentar" e esse consumo atrelou-se também a diversão de fim-de-semana de passear no shopping, então soou o sinal de alerta:
"QUEM SÃO ESSES QUE QUEREM ROUBAR MEU DIREITO DE CONSUMIR?!"
Mais ainda: "QUEM ELES PENSAM QUE SÃO PARA OUSAREM OCUPAR O ESPAÇO QUE É MEU E DA MINHA FAMÍLIA?!"
PROBLEMATIZANDO:
O capital precisa se expandir para a própria sobrevivência e aqui aparece a contradição: os tradicionalmente excluídos do consumo das marcas criadas para diferenciação social, agora podem consumir também e entenderam que podem usufruir do mundo que o trabalho de seus pais ergueu (e o deles também, considerando que muitos dos que fazem o rolezinho são jovens trabalhadores), querem participar do mundo que antes era apenas assistido nas televisões.
A reação inicial é de repulsa por parte de quem estava apenas a ver "pobres" em programas domingueiros querendo voltar para a terra de onde partiram ou numa suposta democracia "esquenta" de ritmos.
Possibilidades:
1. recrudescer a repulsa, estabelecendo leis contra rolezinhos e agrupamentos de "suspeitos" (lembrando que historicamente os "suspeitos" têm características afrodescendentes) - o que já está acontecendo;
2. iniciar um processo de transformação na própria estrutura excludente do modo de produção capitalista (duvido que essa seja uma possibilidade real)
3. o capital encontrar uma maneira de agregar esses grupos, considerando que são consumidores também. Recém chegados ao mundo dos que podem pagar pela "ostentação", mas, ainda assim, consumidores - considere que há algum tempo a população afrodescendente sequer tinha produtos adequados para seu tipo de cabelo, tipo de pele e afins; pessoas acima do peso também e pessoas com idade avançada, idem. Se passou a gerar renda, haverá uma forma de usufruir disso.
Alguém que lê este texto pode já ter pensado: "mas é muito fácil dizer isso! E aqueles que foram pegos depredando ou ainda tentando mesmo roubar alguém?"
Essa situação não deve ser negada, mas pense da seguinte maneira: qual movimentação não tem aquelxs que destoam do grupo maior?
Mais do que tratar da aceitação ou não dos rolezinhos, as reações contra o fato maior que é a entrada desses grupos nos shoppings revela a separação criada pelo capital e que ultrapassa a dicotomia força de trabalho X donos dos meios de trabalho, chegando ao ponto de divisão de níveis de consumidor: nível A, consumidor nível B, consumidor nível C e assim por diante.
Entendamos nível da seguinte maneira: nível A pode comprar os artigos mais caros, nível B os artigos intermediários, nível C, se esforçam para comprar os artigos nível B e assim continuando com variações.
Antes de gritar aos quatro ventos que deve-se evitar os rolezinhos, vamos pensar na estrutura maior.
PENSE NISSO ANTES DE POSTAR IMAGENS OU VÍDEOS APLAUDINDO ABUSO DE PODER CONTRA GRUPOS QUE TAMBÉM TÊM O DIREITO DE PASSEAR EM SHOPPINGS E APENAS OLHAR VITRINES, ASSIM COMO MUITAS VEZES MUITAS PESSOAS DE PELE MENOS ESCURA FIZERAM.
PENSE FORA DA CAIXA.
Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA.
Para ajudar a PENSAR FORA DA CAIXA:
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