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ARTIGOS

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

CARNAVAL, FANTASIAS, CABELOS AFRO E CONSCIÊNCIA COLETIVA

A maneira como uma sociedade se diverte é também como essa sociedade se vê. Muitas tensões sociais podem ser identificadas em momentos festivos. O carnaval pode ser um laboratório dos mais instigantes e reveladores das formas brasileiras de lidar com questões específicas, como classe, gênero, etnia etc.

Pensemos nas fantasias: homens “viram” mulheres, mulheres “viram” homens, crianças são fantasiadas como adultos/as e assim, carnavalescamente, se vai. Ao pensar nas fantasias, quem nunca viu ou mesmo se fantasiou com perucas estilo “black power”? Ou ainda com dreadlocks? Ou mesmo filás com as cores verde, vermelha e amarela? Pois é, muitas pessoas. Mas vale aqui pensar um pouco além sobre essas fantasias, mesmo porque elas colocam como elemento festivo (zombeteiro às vezes) uma pessoa, o cabelo que ela ostenta, aspectos de seu corpo.


O que se quer dizer aqui é que muito dificilmente se vê cabelos lisos como adereços, fantasias para o carnaval. Mas se vê cabelos lisos sendo vendidos e comprados a preços elevadíssimos, sendo inclusive postados anúncios e cartazes comunicando: “compramos cabelos humanos”. É aqui que podemos inserir uma chave de leitura e de entendimento: cabelos de pessoas negras são para fantasias, para festas e cabelos lisos, não. Estes, ao serem vendidos e comprados, aparecem com mais valor agregado do que outros tipos, outras fibras.

Sendo consciência coletiva o conjunto de crenças e sentimentos que compõem a visão de mundo da média da população de uma sociedade, então o uso de cabelos estilo “black power” como fantasia demonstra a maneira da nossa sociedade enxergar a população afrodescendente. É colocada em um local hierarquicamente inferior, não humano, digno, muitas vezes, de piada, de risos.

Tranças afro presas em filás, dreadlocks, perucas estilo “black power” sendo vendidas como fantasias demonstram o lugar de coisa que a população negra tem no imaginário brasileiro, na consciência coletiva de muitos setores do país. A discriminação acontece muitas vezes de maneira explicita, mas é de forma implícita que ela é construída com mais solidez.

Sendo a educação um processo que ocorre em parceria com o processo de socialização, então estamos o tempo inteiro sob processos educacionais que nos direcionam o olhar e os sentimentos sobre o mundo e as pessoas que estão ao redor. Essa chave de leitura e entendimento que tem como ponto de partida as fantasias de carnaval pode ser estendida para filmes, seriados, telenovelas e vários produtos culturais.

Não cabe aqui afirmar de imediato que é verdade ou não, mas pensar sobre a situação: quando ter a pele clara, o cabelo liso, os olhos verdes ou azuis é motivo de piada ou mesmo é fantasia? E mesmo que isso aconteça, esses casos confirmam o que a consciência coletiva é, ou seja, o que a maior parte das pessoas pensa sobre si e sobre outras/os e, nesse caso, a população afrodescendente ainda é colocada em posição de subalternidade no imaginário coletivo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

CAMARO AMARELO E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL - SOCIOLOGIA E MÚSICA

As canções são uma importante fonte para compreensão das formas de pensar de uma sociedade, principalmente pelo que podemos descobrir nelas enquanto o jeito com o qual uma sociedade se vê, guardando a contradição entre como uma sociedade se vê e como ela é.

A canção Camaro Amarelo, de Munhoz e Mariano pode ser analisada a partir do que revelam sobre status e papel social. Eis a letra:





Agora eu fiquei doce, doce, doce, doce
Agora eu fiquei do-do-do-do-doce, doce [2x]

Agora eu fiquei doce igual caramelo
Tô tirando onda de camaro amarelo
Agora você diz: "Vem cá que eu te quero!"
Quando eu passo no camaro amarelo



Quando eu passava por você na minha CG
Você nem me olhava
Fazia de tudo pra me ver, pra me perceber
Mas nem me olhava
Aí veio a herança do meu ‘véio',
Resolveu os meus problemas, minha situação
E do dia pra noite fiquei rico
Tô na grife, tô bonito
Tô andando igual patrão

Agora eu fiquei doce igual caramelo
Tô tirando onda de camaro amarelo
Agora você diz: "Vem cá que eu te quero!"
Quando eu passo no camaro amarelo

Agora você vem, né? E agora você quer, né?
Só que agora vou escolher, ta sobrando mulher
Agora você vem, né? E agora você quer, né?
Só que agora vou escolher, ta sobrando mulher

Status (ou posição social) diz respeito ao local que  indivíduos e grupos ocupam em uma sociedade. Essa posição pode ser atribuída e adquirida, ou seja, nos colocam em determinados locais sociais a partir de elementos que não escolhemos (ser filha/o de tais pais e mães, netas/os de tal avô) e dos elementos que tem relação com o que fazemos, com as nossas ações (bom filho, ótima cirurgiã etc.).

A canção expõe uma situação de distribuição desigual de prestígio a partir da posição social que é atribuída ao indivíduo pelo bem material que ele possuía – a moto modelo CG. No caso ele não era “visto”, não era percebido apesar do esforço que ele empreendia. Podemos entender o status que é atribuído ao indivíduo por causa do bem material que ele tem e que nesse caso é uma posição rebaixada, relacionada com a suposta baixa qualidade da motocicleta.

O status que é atribuído a ele muda quando ele recebe a herança do “véio”, pois, a partir daquele momento ele pôde adquirir bens materiais de suposta qualidade maior, no caso um automóvel tipo camaro e de cor amarela, que dá título a canção. Ele passa a receber atenção que antes, com a moto de qualidade duvidosa, não tinha e tanto desejava.
 
Ao mesmo tempo a canção contribui para a manutenção de uma imagem de mulher como sendo atraída por bens materiais. Na canção, antes da herança e do camaro, não havia atração aparente e, depois do camaro, “tá sobrando mulher”. Atribui-se uma posição social de “interesseira” que reafirma uma construção histórica de décadas e décadas.

Nesse ponto chega-se ao papel social, o conjunto de comportamentos que se espera de alguém, de um grupo a partir da posição que ele ocupa. A canção fortalece a ideia de que quem tem dinheiro para além do que necessita, ostenta, esbanja e, para as mulheres, de que se aproximarão de quem tiver mais bens materiais para oferecer.


A perspectiva aqui não é julgar comportamentos, mas instrumentalizar o olhar a partir dos conceitos de status e papel sociais e identificar como, no cotidiano, ocorre a construção e reafirmação de conjuntos de ideias que compõe nossas formas de agir, pensar e mesmo de sentir (uma das definições de ideologia).