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ARTIGOS

sábado, 22 de junho de 2013

DAS MANIFESTAÇÕES OU sentei na mesa de um bar/comecei a meditar procurando a solução/pro futuro da nação e do imposto predial...

 
Escrevo esse texto com um aperreio no coração, brotado de minha participação na passeata, manifestação/protesto/passeio carnavalesco acontecido ontem pelas ruas de Recife/Hellciff/Recífilis. Sei das dificuldades de ler um texto longo, então enumerarei minhas impressões/depressões/repressões acerca do que vi:

1. QUE P@#$% É ESSA?!
Foi o que senti ao chegar à praça do Derby. Sentimento que pipocou ao ver tanta gente junta e tanta gente visualmente chamativa. Minha memória de protestos é de gente vestida para a guerra, clima tenso e o que vi foram sorrisos acetinados, aparelhos resplandecentes, pais levando filhos como se fosse um domingo no parque (lembrei de Gil agora, eita, que sintomático).

2. MÁSCARA DE GUY FAWKES?? F@#$%! CADÊ A CAMISA NA CABEÇA, CADÊ??
Segundo sentimento. Centenas de pessoas com as máscaras do filme “V de Vingança” me fizeram indignação. Minha formação de movimentos sociais de outras épocas apertou logo o botão vermelho (vermelho bem antigo) e pensei que estava tomado por uma espécie de desfile carnavalesco grotesco por ter as mesmas fantasias;

3. CARTAZES IMPRESSOS EM PAPEL COUCHÉ? E AS BANDEIRAS E FAIXAS PRESAS EM PEDAÇOS DE MADEIRA?
Terceiro sentimento. Um monte de cartazes plasticamente bem produzidos dividiam espaço com cartolinas e até um mini ônibus feito de madeira (não tenho certeza) marcou presença em todo o trajeto.  O partidarismo repetido noutros lugares do Brasil foi banido também do evento aqui em Recife. Um homem foi agredido por trajar a camisa de um partido numa prova da ojeriza que grassa nas movimentações. Senti falta das bandeiras que tremulavam em outros carnav... protestos; apenas uma bandeira eu vi: a do movimentos dos trabalhadores rurais sem terra;

4. CADÊ O CHOQUE? E AS BOMBAS? E OS TIROS? NENHUM ESTUDANTE FOI ARRASTADO NUMA GRAVATA POLICIAL?
Quarto e talvez mais intenso. Policiais com faixas brancas deram o “tom da paz” que é muito defendido nas passeatas Brasil afora. Fiquei com aquela sensação de “tá faltando alguma coisa, tá ligado?”. Violência mesmo só de algumas pessoas que roubaram ou furtaram durante a passeata ou que quiseram aproveitar para fazer vingança. Apenas um policial sofreu cortes de faca peixeira ao separar a briga;
                Dois grupos fecharam trecho da avenida Agamenon Magalhães e encontramos um deles impedindo a passagem de veículos motorizados (senti quase um lampejo de emoção: agora vai ter tiro!)

Encontrei amigos e amiga que estavam com a mesma impressão que eu. Sentimos uma espécie de sentimento de obsolescência, de superação de tudo que nos formou e nos conferiu identidade. De descrença na possibilidade de mudança sem luta armada, sem destruir o que garante a manutenção do responsável por todas as mazelas: o capital.

Embalado por Falcão, não o d’O Rappa, mas o do Ceará:

sentei na mesa de um bar/comecei a meditar procurando a solução/pro futuro da nação e do imposto predial...

Não cheguei ao ponto final, mas algumas POSSIBILIDADES apareceram:

1. É UMA FORMA DIFERENTE DE ORGANIZAÇÃO.
Os modelos de protesto nos quais a maior parte da população foi formada divergem de tudo o que foi visto no dia 20. Eles são melhores? Não me sinto confortável em responder. Eles irão obter o que pretendem? (mas o que pretendem? Perguntaram alguns) Não podemos responder sem uma nesga de dúvida. Mais do que tentar prever, considero importante participar e pensar sobre o que pode ser feito hoje.

2. A VIOLÊNCIA É MESMO DESNECESSÁRIA?
NÃO DEFENDO A VIOLÊNCIA, mas é importante considerar que ela esteve presente em todos os atos revolucionários da História. Mesmo que mencionem Gandhi, lembrem o que aconteceu e quantas pessoas morreram até que a Índia conseguisse a independência.
                Nenhuma revolução ocorreu sem a participação dos “radicais”, aqueles que enfrentaram, na linha de frente, a força destrutiva do Estado. Considere também que sendo uma forma diferente de organização, meios diversos serão elaborados.
                Essa violência, esse estouro é também resposta aos diversos tipos de violência e não apenas a física que a maior parte da população vem sofrendo há um bom tempo e é uma forma também legítima de protestar quando não atinge inocentes.
                Se estamos falando de uma suposta revolução, então deve-se considerar que nenhuma revolução (nem as que se autodenominavam equivocadamente) aconteceu sem mortes ou depredação de “patrimônio”. Seria essa a primeira? Já se provou que não.
                Vale notar que em uma das muitas transmissões dos protestos, foi veiculada a informação que um grupo de vândalos (denominação frequentes nestes dias) invadiu um mercado e não quis levar o dinheiro, apenas as mercadorias (alimentação).
...
...
...
...

                Pausa tensa com o objetivo de representar a inexistência de comentário acerca desse detalhe.
                Outro elemento que deve ser observado com maior acuidade é o fato de se atacar sedes do governo, bancos (representantes do status quo capitalista). Por que as sedes e os bancos? Seria aquela reação contra a representação do poder instituído, e o que o legitima, sintomática de uma percepção de quem é o “inimigo” comum? O chamado vandalismo é apenas motivado por destruir  por destruir? Penso que não...

3. AS MÁSCARAS DE GUY FAWKES SÃO UMA APROPRIAÇÃO INTERESSANTE.
Tive, até o momento de conclusão desse texto, duas possibilidades de entendimento:

(I) minha geração esteve próxima – de certa forma – de seus referenciais de rebeldia, de contestação; tinha Chico Buarque, Caetano, Gil, Che Guevara, professores que instigavam os estudantes a agir e eram eles próprios atuantes (vi muitos de meus mestres irem para a rua em prol de suas causas), hoje esses referencias são, em comparação, inexistentes; artistas raramente engajados de verdade e raros mestres fazendo o que pregam em sala de aula, logo, a ação, para esses estudantes, estava mais difícil de acontecer por não terem em quem se espelhar;
(II) o referencial que essa geração tem de rebeldia e ação contra o sistema opressor é Guy Fawkes do filme V de Vingança e, indo além na análise ainda sob o calor dos acontecimentos, nem seria desse filme e sim do grupo Anonymous, que se apropriou da máscara e difundiu essa representação para o planeta como sinônimo de luta contra injustiças e em favor do povo.

Assim, penso que se formos tentar analisar esses acontecimentos, deveríamos trazer do limbo a imaginação sociológica, de C. W. Mills e procurar ampliar o olhar. Estamos diante de algo bem diferente do que historicamente aconteceu no país.

4. PARTIDOS POLÍTICOS.
Uma das situações constrangedoras que presenciei foi a ojeriza em relação aos partidos políticos e escrevi noutra postagem que não defendo partidos e entendo que alguns deles serão e estão sendo oportunistas, mas é preciso considerar que, por exemplo, muitas das legendas políticas que estão sendo rechaçadas, foram para a rua reivindicar redução da passagem (para usar a pauta deflagradora dos movimentos) e o fizeram quando a maior parte sequer aderiu à movimentação.
                Mas pensei (mais uma vez lembrando: NO CALOR DOS ACONTECIMENTOS E SEM CARÁTER DEFINITIVO) que a organização “desorganizada”, sem liderança é uma importante mudança, considerando que muitas lideranças políticas não cumpriram o que delas se esperava e ainda decepcionaram quem nelas acreditou.
                Porém, também penso ser quase injusto que aos partidos que tinham/tem em suas agendas muitas das reivindicações orgulhosamente defendidas seja vetada a participação e ocorra o rechaçamento de quem, porventura, busque participar e levantar a bandeira de seu partido.
                Mais uma vez chamo atenção para o que afirmei acima: não sou contra ou a favor deste ou daquele partido, mas busco pensar as possibilidades a partir do conhecimento teórico e prático que tenho.

5. EM TEMPO: ATUALIZAÇÃO NECESSÁRIA – “A VIOLÊNCIA VOLTOOOOU!”
As manifestações seguintes ao dia 20.6 (e no final deste também)foram marcadas pela violência contra os manifestantes e fez muitos entusiastas ficarem felizes pelo retorno das passeatas “clássicas”, mas consideremos o seguinte: será que fazendo as portas do comércio fecharem em dias de manifestação não estaríamos  (e estamos) prejudicando “a burguesia” (para usar a terminologia também clássica), pois um dia sem vendas é dia sem lucros?

Assim sendo, lembremos que policiais são apenas martelos, o braço que os usa está um pouco mais acima, logo...


6. TÉRMINO DO TEXTO SEM CONCLUÍ-LO.
Termino aqui o texto, mas não a temática. Assumo que, agora, neste instante, meu aparato teórico e prático não me dão certezas sobre o que acontece ou acontecerá. No que isso vai terminar (se vai), não sabemos. Estamos envolvidos emocionalmente e nossa formação, tanto intelectual quanto social e cultural, influenciarão sobre nossos juízos de valor. A partir do conhecimento proporcionado pela História, o que podemos intentar é EXPOR POSSIBILIDADES, mas definir é uso equivocado do saber histórico; mas continuo afirmando como em outra postagem:

Independente dos resultados e do que aconteça, o despertar da população e toda essa quantidade de pessoas já torna o evento histórico e lição para os administradores do país que, parafraseando o clássico renascentista, sabemos que há algo de podre no Brasil e que ESTAMOS DE OLHO E PASSAMOS A REAGIR. SOMOS MILHÕES, VOCÊS, POUCOS...

Pense fora da CAIXA.

Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA


               


quarta-feira, 19 de junho de 2013

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MANIFESTAÇÕES RECENTES

Tem muita gente indo para as ruas. Tem sim, senhor. Todas elas sabem exatamente o que reivindicam? Provavelmente não.

Dúvidas aparecem sobre o futuro do movimento. Dúvidas aparecem sobre o que será feito. Enquanto historiador, professor de História e Sociologia e ativista, ainda sob os efeitos do olho do furacão, enumero algumas considerações:


1. NÃO DÁ PARA EXERCER FUTUROLOGIA.
No que isso vai terminar (se vai), não sabemos. Estamos envolvidos emocionalmente e nossa formação, tanto intelectual quanto social e cultural, influenciarão sobre nossos juízos de valor. A partir do conhecimento proporcionado pela História, o que podemos intentar é expor POSSIBILIDADES, mas definir é uso equivocado do saber histórico;

2. É IMPORTANTE ASSUMIR A PERPLEXIDADE DIANTE DO QUE ESTÁ ACONTECENDO.
Muitxs me perguntam o que penso e devem estar perguntando para outrxs professorxs também. “não sei”, é o que digo, mas sei que é um movimento social deflagrado a partir do aumento de vinte centavos e que, em verdade, é a vazão de opressões seculares e desmandos de classe históricos;

3. QUE BOM QUE ESTÁ ACONTECENDO AGORA.
É comum ouvir nestes dias frases como “por que fazer isso agora?”, “eu apoio, mas essa exploração sempre aconteceu, então, por que agora?”. Sem saber, quem se expressa dessa forma alimenta argumentos solidamente embasados em conformismo com o que não é natural e, sim, social. Já dizia velho deitado: “antes tarde do que nunca”. Se começou agora, é pelo fato das contradições terem atingido níveis insustentáveis, por isso a reação em cadeia;

5. A LUTA É APARTIDÁRIA, MAS ALGUNS PARTIDOS REIVINDICAVAM ASPECTOS QUE ESTÃO NA PAUTA RECENTE HÁ ALGUM TEMPO.
Não defendo partidos e entendo que alguns deles serão e estão sendo oportunistas, mas é preciso considerar que, por exemplo, muitas das legendas políticas que estão sendo rechaçadas foram para a rua reivindicar redução da passagem (para usar a pauta deflagradora dos movimentos) e o fizeram quando maior parte sequer aderiu à movimentação.


Independente dos resultados e do que aconteça, o despertar da população e toda essa quantidade de pessoas já torna o evento histórico e lição para os administradores do país que, parafraseando o clássico renascentista, sabemos que há algo de pobre no Brasil e que ESTAMOS DE OLHO E PASSAMOS A REAGIR. SOMOS MILHÕES, VOCÊS, POUCOS...

REAJA.

Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AOS MEUS ALUNOS E ALUNAS E SEUS PAIS E MÃES: ESCLARECIMENTOS SOBRE A GREVE

Professorxs das escolas particulares estamos em greve. Estamos? É, estamos. Se você é estudante, talvez estranhe essa notícia. Por que algumas de suas professoras e professores darão aula? Por que não pararão as atividades? 

Algumas considerações sobre a greve:

1. É SEMPRE A ÚLTIMA OPÇÃO DOS TRABALHADORES.
Quando todas as tentativas de negociação entre patrões e empregados não atinge a conciliação entre os interesses patronais e reivindicações trabalhistas, a greve é iniciada.

2. É SEMPRE DECIDIDA EM ASSEMBLEIA.
Não são os diretores de sindicatos que decidem fazer greve, são xs professorxs reunidxs em assembleia que o fazem.

3. TODXS PROFESSORXS SÃO OBRIGADXS A FAZER GREVE?
NÃO. A greve é em prol da coletividade, mas a adesão é individual.

4. POR QUE TEM PROFESSORXS QUE NÃO FAZEM GREVE?
Por vários motivos, os mais comuns são:

                               a. MEDO. Contas a pagar, famílias para sustentar são consideradas amarras para muitxs professorxs e, temendo não ter condições de garantir o sustento próprio e dos familiares, não aderem ao movimento;

                                b. CRENÇA QUE O EMPREGO É UM PRESENTE DOS DONOS DA ESCOLA. Alguns professrxs acreditam que a manutenção do emprego é um favor feito pelos patrões, desconsiderando que é enquanto for útil para a instituição que seu emprego é mantido. Entenda útil como: cumpre suas obrigações, não falta (mesmo adoecendo ou tendo alguém da família doente), participa das atividades da instituição...

                               c. CRENÇA QUE NÃO FAZENDO GREVE NÃO SERÃO DEMITIDXS. Muitxs acreditam que não serão demitidxs se não reivindicarem seus direitos, o que se revela um erro, pois muitas demissões ocorreram e ocorrem e ocorrerão mesmo sem adesão ao movimento grevista (como mencionado no tópico acima);

A greve é, com certeza, nossa última opção. Todxs que têm aula comigo sabem que defendo a Discórdia, que é, em nossas aulas, o motivo agregador, instigador do debate. Digo para todxs que A DIFERENÇA É NATURAL MAS, A DESIGUALDADE É SOCIAL, LOGO, CONSTRUÍDA A PARTIR DE DETERMINADOS INTERESSES.

NÃO FAÇO GREVE COM O INTUITO DE PREJUDICAR VOCÊS, ESTUDANTES, mas não posso afirmar em sala de aula que podemos mudar o mundo, torná-lo menos desigual e não fazer parte do movimento que garantirá melhores condições de vida para mim e, por extensão, melhor educação para vocês.

O que reivindicamos:


A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente!
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro!


MUDE. AJA.

Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA.



                               

domingo, 2 de junho de 2013

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCHA DAS VADIAS - Recife, 2013

A Marcha das Vadias passou e depois dela vieram os comentários. Comentários que foram desde os maiores elogios até a mais pura negação sem deixar de passar pela ridicularização, intolerância e desrespeito. Enquanto professor, presenciei colegas de profissão afirmarem que um movimento que busca respeito não deveria ter participantes seminuas gritando palavras de ordem pelas ruas e se auto-intitulando vadias.

Decidi escrever algumas considerações sobre a Marcha das Vadias com o objetivo inicial de esclarecer alguns tópicos e, claro, instigar o pensamento fora da caixa através da Discórdia. Comecemos, então:

1. O MOVIMENTO TEM UMA ORIGEM VIOLENTA.
Após a ocorrência de vários estupros na universidade de Toronto, no Canadá, um policial afirmou que, para não serem violentadas sexualmente, as mulheres não deveriam se vestir como vadias. Mais de três mil pessoas protestaram e, a partir dali, espalhou-se pelo mundo.

2. QUANDO ALGUÉM É ASSASSINADO A CULPA É DO ASSASSINO; POR QUE QUANDO UMA MULHER É ESTUPRADA, A CULPA É DELA?
Vamos seguir o raciocínio em etapas: quando alguém é roubado, busca-se o ladrão que cometeu o delito e não se diz: “quem mandou ter celular? Só podia ser roubado, mesmo. Bem feito!”; quando alguém é assassinado, destaca-se o crime, procura-se o criminoso e não se diz: “quem mandou estar vivo? Se está vivo é para ser assassinado! Acho é bom!”
                Quando uma mulher sofre um estupro, há um olhar mórbido, acusador para a vítima e pergunta-se afirmando: “será que ela não provocou?” “você reparou na roupa que ela está usando? Pedindo pra ser estuprada!”
                É UMA LÓGICA PERVERSA que naturaliza o estupro contra mulheres e é um crime brutal, uma vez que o que há de mais pessoal, o próprio corpo, é violado contra vontade de sua dona.

3. VADIA = LIVRE PARA VESTIR O QUE QUISER E FAZER O QUE QUISER COM O PRÓPRIO CORPO.
Ouvi muito a frase: “como querem respeito e se chamam de vadias?” Vamos entender: usa-se o termo para definir quem não tem ocupação, quem não faz nada. No popular, é referência a vagabunda ou, ainda, prostituta. As mulheres que foram violentadas na universidade de Toronto, pense bem, universidade de Toronto, poderiam ser definidas assim? Provavelmente não.
                Se você é uma mulher e está lendo esta postagem, és vadia porque escolhes a roupa que queres usar? E mais ainda: só porque sua roupa tem um decote ou é um short curto você é uma prostituta? Penso que não.
                O uso do termo Vadia tem o objetivo de negar o conteúdo preconceituoso que a palavra tomou. As palavras e o sentido que a elas é dado também são ideológicas.
                Quando o policial usou o termo, reafirmou uma visão machista e sexista que legitima muitos crimes. A mesma sociedade que veicula propagandas afirmando que as mulheres devem se vestir de maneira sensual e agradar namorados, maridos e afins, é a mesma que chama de vadia essa mesma mulher que sofre uma violência por estar usando a roupa que a propaganda vendeu com a característica mágica de torná-la sensual e atraente.
                Temos uma contradição perversa e cruel. Se quisermos adicionar um elemento novo, então perguntemos o que justifica os estupros contra mulheres que usam burcas ou vestimentas “mais comportadas” como o caso recente de estupro coletivo na Índia (é recente a notícia, mas atos dessa natureza ocorrem há muito tempo, tempo demais, até).

Se o corpo feminino é usado como objeto para vender cervejas, roupas e pode ser atraído a partir da compra de determinados produtos, é exatamente isso o que a Marcha pretende negar, outros óculos, outra visão. Quando uma Vadia mostra o seio, a ideia, entenda, é: "O PEITO É MEU, SE USO ROUPA DECOTADA, É PORQUE QUERO USAR, E NÃO PARA VOCÊ, HOMEM, PEGAR!"

Mas o que é exposto em muitos lugares (destaque para a imprensa) são as fotos das mulheres que mostram os peitos, contribuindo para uma imagem equivocada e distorcida do objetivo da Marcha...

Ir para a Marcha ajudaria muito na quebra dessa visão distorcida. A Marcha é contra as violências que as mulheres sofrem, sendo a física, a violência extrema. As simbólicas estão por aí o tempo inteiro, desde a imposição de cores, passando pelos brinquedos, os assovios, as propagandas de cerveja.

Alguém vai afirmar: "MAS AS MULHERES ACEITAM ESSAS SITUAÇÕES DE INFERIORIZAÇÃO, USAM ROUPAS DESSE OU DAQUELE JEITO, PARTICIPAM DOS COMERCIAIS..."

Pensemos: COMO COBRAR UMA REFLEXÃO ACERCA PRÓPRIA CONDIÇÃO QUANDO NÃO SE FOI INSTRUMENTALIZADA PARA ISSO, QUANDO TODO O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO (lembrando Durkheim e outros) DIRECIONOU A FORMAÇÃO DE MUITAS PARA ESSE FIM?

4. TÁ, CONCORDO COM PARTE DO QUE ELAS REIVINDICAM, MAS TEM QUE SER A  FAVOR DO ABORTO? ISSO, PARA MIM, É CRIME.
Uma das imposições sociais mais recorrentes para as mulheres é a de ser mãe. Afirma-se que toda mulher é uma mãe natural. Parir é natural, ser mãe é social, culturalmente aprendido.
(…)
(…)
(…)

PAUSA ESTRATÉGICA PARA A FÚRIA E INDIGNAÇÃO QUE BROTOU NO CORAÇÃO DE MUITXS LEITORXS.

ATENÇÃO, LEIAM COM O CORAÇÃO ABERTO E A MENTE TAMBÉM:

Tudo que não está atrelado a natureza é cultural. Exemplo: fome é natural, saciar a fome é natural. Saciar a fome comendo aquela feijoada ao invés de feijão tropeiro é cultural. Dormir é natural. Dormir em cama ortopédica, cultural, considerando que o ato de dormir em tal móvel é parte do que se prescreve para determinados males da coluna ou, simplesmente porque se quer dormir em tal cama.

Ficar prenha (ou engravidar) é natural. Completar os nove meses de gestação é parte do que há de natural na gestação humana (alguns fetos não completam esse tempo). Mas SER MÃE, é algo que se aprende. Há o aprendizado da paciência, do tom de voz para garantir o controle, os sistemas de recompensa para comportamentos adequados, as “palmadas pedagógicas” que fazem parte do SER MÃE.

Uma problematização importante é a de que se ser mãe é natural, como explicar as mães que negam filhxs quando nascem? E por favor, não argumente com “estava possuída pelo mal” ou algo do gênero. A questão é que aborto é mal discutido na sociedade e negar a legitimidade de uma Marcha que busca melhores condições para quem, historicamente, esteve sempre sofrendo vituperações é demonstração de pouca sensibilidade.

Quando se discorda de um movimento, deve-se agir em prol do aperfeiçoamento, seja discutindo, seja atuando...mas calar-se e apenas criticar este ou aquele aspecto ou todo o movimento, é contribuir para a perpetuação do mal. Como escreveu o poeta: o problema não é a maldade dos malvados, mas a omissão dos "bons".

Precisa-se também sair do “umbigocentrismo” da própria opinião. A Discórdia é saudável. O que não contribui para a mudança social é a postura do “já opinei e fui ridicularizadX. Não falo mais! Pronto!” o primeiro passo para uma transformação contundente é considerar que suas ideias podem e serão recusadas. Injustiça? Talvez. Motivo para não participar? Não.

Como afirmei no início dessa postagem: não quero convencer pessoas a saírem nas ruas apoiando a Marcha das Vadias, mas esclarecer aspectos que, enquanto professor, é muito inquietante ver e ouvir sendo mal interpretados ou propositadamente mal interpretados.

O lema é: Discórdia hoje, Discórdia amanhã, Discórdia SEMPRE


Pensemos fora da caixa.