Professor, o senhor não vai votar em Dilma, não, né?
Professor, o senhor é comunista, é?
Professor, o senhor é anarquista? Defende os black blocs?
Vixi, professor! O senhor é desses que querem que todo mundo seja pobre, é?
Essas perguntas e outras muito parecidas fazem parte do cotidiano de professoras/es de História, Filosofia, Sociologia, Geografia ou de qualquer professor/a que demonstre algum engajamento com questões sociais.
Como estamos em período eleitoral é aí que a situação fica mais tensa. As conversas políticas – sobre políticas – tomam conta da sala de professoras/es chegando até as salas de aula. Um prato cheio para pesquisas sócio-antropológicas devido aos posicionamentos mais contraditórios, incoerentes, divergentes e, por que não dizer, bizarros de quem, em teoria, deveria contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico de dezenas de estudantes.
Um entendimento equivocado do que escreveu Paulo Freire leva muitxs professorxs a doutrinarem suas turmas afirmando que tal ou qual candidata/o é o melhor para o país. Por mais ansioso que esteja, por mais preocupado que me sinta em relação ao futuro do Brasil, não tenho o direito de forçar minhas turmas a verem o mundo da maneira que eu vejo.
Tenho a obrigação de expor para as turmas as possibilidades de posicionamento político, devo lhes garantir contato com a instrumentação teórica para problematizar a realidade social e DESNATURALIZAR raciocínios que contribuem para a manutenção de desigualdades.
É válido considerar que muitos países considerados por muitas pessoas deste Brasil como exemplos a serem seguidos tem políticas públicas de transferência de renda como as que estão sendo ampliadas pelos governos do PT, sendo estas inclusive vistas com bons olhos lá fora.
Por determinadas classes sociais e grupos de mídia é que há ações de depreciação ao que está sendo implementado. Não é novidade: há alguns anos, Brizola enfrentou oposição ferrenha desses grupos e ele também era respeitado “no estrangeiro”.
Algumas críticas repetem a cantilena de que o Brasil parou de crescer, que a inflação está fora de controle. Usando o raciocínio que aplico em sala de aula me pergunto quantas dessas pessoas sabe exatamente de que crescimento econômico se está falando, como ele afeta a vida delas e uma, bem importante: quantas sabem O QUE É INFLAÇÃO?
Algumas afirmam que a economia vai mal, mas eu pergunto: como pode ir tão mal uma economia que garantiu que o Risco Brasil (explicando: é o nível de risco de investimentos no país por parte “do estrangeiro”) caísse de 1446, em 2002, para 224 em 2013?
Vamos aos bancos: o Banco do João, da Maria, do Antonio e do Pedro – do Brasil teve rendimento de dois bilhões de reais em 2002 e, ano passado, de 15,8 bilhões de reais. E o banco dos poupançudos, a Caixa, em 2002 teve lucro de 1,1 bilhão de reais e, ano passado, foram 6,7 bilhões de reais de lucro.
Lei básica do liberalismo clássico, aquele de Adam Smith, oferta e procura: em 2002 foram produzidos 1,8 milhões de veículos. Ano passado: 3,7 milhões de motorizados. Se há produção é porque há demanda.
Mas você poderá dizer que tá difícil a vida do empresariado nacional, então, sobre falências: FHC – 25.587, Lula e Dilma – 5.795, em média.
Decidi expor esses dados não mencionam as questões sociais. O motivo: esse texto está direcionado para a população que não é rica (os chamados pobres de direita ou pobres conservadores), pois anseiam serem ricos e desprezam a própria condição.
O governo do PT não foi socialista, nem foi comunista. Aplicou elementos de capitalismo que os dados mostram. Não apresento argumentos emocionais, apresento dados com o objetivo de reduzir as argumentações em favor de Aécio porque a economia vai mal, tem muita empresa falindo etc, etc.
Mas você pode querer tratar das políticas públicas e abordar os problemas que os programas assistenciais tem. Ok, vamos lá: políticas públicas existem para colocar em funcionamento o que a Constituição estabelece, pois, o fato de estar no texto da Carta Magna que o governo deve garantir saúde, educação de qualidade não quer dizer que estas serão implementadas. É aí que são elaboradas as políticas públicas, para se fazer cumprir a Lei.
São perfeitas? Não, mas a política é o campo do que sempre está em construção. Querer que políticas públicas sejam perfeitas é uma ingenuidade. E parte dessa ingenuidade foi embora quando vieram ao conhecimento público o mensalão e outras denúncias de corrupção. O PT decepcionou, sim, mas a causa é maior que qualquer partido.
Muitas pessoas que apoiavam ou militavam pelo PT saíram do partido – com todo direito – e se transformaram em antipetistas viscerais, chegando ao ponto de apoiar Aécio e cia limitada. Têm todo direito disso, mas me incomoda identificar pouca maturidade política para lidar com essa frustração.
A causa é maior que qualquer partido. Lembro que quando foram denunciados os crimes de Stálin ocorreu uma grande saída de membros do Partido Comunista, incluindo grande nomes da literatura e da política brasileira. Marighella, que foi assassinado durante o regime civil-militar, afirmou que deveriam os socialistas ficarem e reformarem o Partido e não abandonarem a causa – que não é uma ou duas pessoas, muito menos um partido.
Sigo essa postura de Marighella. E é por segui-la que escolho Dilma, porque o projeto que ela deu continuidade é o que mais realizou as mudanças sociais que eram necessárias para a vida de centenas de pessoas. O grupo de Aécio, historicamente, não teve essa sensibilidade.
Sonhar o pão
Toda a manhã
E ser aquele que mastiga
Toda a manhã
E ser aquele que mastiga
Sonhar o gosto
Do alimento
Se misturando na saliva
Do alimento
Se misturando na saliva
Aquele aroma
Que a gente sente
Pó de café na água quente
Que a gente sente
Pó de café na água quente
Sonhar escola
Senhor São Bento
Sonhar o tal discernimento
Senhor São Bento
Sonhar o tal discernimento
Sonhar a besta
Que em seu fastio
A fúria do começo viu
Que em seu fastio
A fúria do começo viu
Sonhar o fogo
Do quilarão
Que veio do ainda-não
Do quilarão
Que veio do ainda-não
Gratia plena
Vida terrena
O céu aqui a gente pare
Vida terrena
O céu aqui a gente pare
Filii tui
Na via crucis
Per mare nostrum navigare
Na via crucis
Per mare nostrum navigare
Iê iô
Ié quá foguê
Ié quá foguê
Sonhar a porta
Da esperança
O entra e sai da vizinhança
Da esperança
O entra e sai da vizinhança
Sonhar o curso
Do marinheiro
Que viajou o mundo inteiro
Do marinheiro
Que viajou o mundo inteiro
Sonhar a lenda
Por cuja fenda
Sabedoria nos assalta
Por cuja fenda
Sabedoria nos assalta
Sonhar o mito
Que em todo o rito
O filho ao parricídio ata
Que em todo o rito
O filho ao parricídio ata
Iê, iô
Ié quá foguê (Bis)
De San Juãããã
ão dá dó de
Ié quá foguê (Bis)
De San Juãããã
ão dá dó de
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