Quem nunca se divertiu assistindo desenhos animados? Eles são parte da formação da criançada há mais de 50 anos. Tal diversão, porém, não deve ser encarada como inocente. Desenhos são importantes veículos de propagação de ideologias e são muitas vezes utilizados para legitimar ordens sociais, formar consciências.
Ideologias estão presentes em praticamente toda produção cultural. Desde pinturas, passando por obras da literatura, canções, filmes e as animações também não escapam.
Sendo ideologia uma percepção invertida da realidade, um mascaramento das contradições e sua propagação estando ligada aos aparelhos ideológicos do Estado e aos meios de comunicação, desenhos animados atendem a interesses específicos, sim.
Alguns exemplos históricos: durante a 2ª guerra mundial o cinema foi uma importante ferramenta de propagação de patriotismo, mais até do que durante a 1ª grande guerra. Nesse contexto os Estúdios Disney produziram animações que foram utilizadas para intensificar o sentimento de aversão aos países do Eixo (Alemanha, Itália, Japão) e exaltar a terra do Tio Sam.
A FACE DO FUHRER, produção de 1942, é um bom exemplo disso. Nela encontramos o conhecido Pato Donald trabalhando para a Alemanha Nazista. Após ser acordado por uma banda marcial composta por soldados japoneses, alemães e italianos, o irritadiço personagem toma o café da manha e ruma para o trabalho... em uma fábrica de projéteis do Eixo. Trabalhando em ritmo acelerado ele se irrita e surta, acordando para exaltar a estátua da liberdade estadunidense. Foi tudo um sonho.
Nesse mesmo período, foi produzida a animação EDUCAÇÃO PARA A MORTE – como nasce um nazista (1943). Nela podemos observar como as crianças alemãs passam por um processo educacional que as faz deixar de lado sentimentos de piedade, medo e passarem a obedecer cegamente ao projeto nacionalista alemão. Destaque para a versão dos contos de fadas, no caso, a Bela Adormecida que, segundo a animação, seria contada para as crianças daquele país: a Bruxa Má era a Democracia e o príncipe encantado era o Fuhrer alemão.
Outros personagens de desenhos animados como Popeye também foram instrumentos de propaganda ideológica naquele período.
Com o desenvolvimento de novas técnicas de animação, temos superproduções que encantam os telespectadores ao mesmo tempo em que veiculam padrões de comportamento e estereótipos. A animação O ESPANTA TUBARÃO (2004), traz o personagem principal Oscar, peixe que trabalha como limpador de baleias, insatisfeito com seu trabalho e não querendo continuar nele. Vale salientar que essa era a profissão do pai dele. A aventura começa quando acidentalmente ele mata um tubarão e se torna, ao mesmo tempo, herói do coral em que vive e perseguido pela máfia de tubarões que querem vingar a morte do comparsa.
Aliando-se a um tubarão que não quer ser assassino (Lenny) como os outros, ele passa a ser um pop star, fingindo derrotar tubarões, que na verdade são Lenny, até a farsa ser descoberta. O que chama a atenção é o fato de que depois de conseguir o que tanto desejava (sair da condição de limpador de baleias, fama, fortuna) Oscar é “punido” por conseguí-lo mentindo. Ao final ele volta a desempenhar o papel que passou do seu pai para ele, feliz e orgulhoso.
Retratando um acontecimento crucial do século XX, a Revolução bolchevique russa de 1917, ANASTASIA (1997) passa a imagem de coitada para a família dos Romanov. Na animação, a família real vivia feliz e foi atacada por malfeitores fomentados pela magia de Rasputin (referência direta ao conselheiro da família e que, na vida real, foi morto em uma ação cinematográfica). A Revolução é designada como “danada” em uma das canções e que só piorou a situação de todos.
Em 2009 foi lançado A PRINCESA E O SAPO, trazendo uma princesa afrodescendente (para usar o termo politicamente correto) pela primeira vez nas produções dos Estúdios Disney. É interessante notar que a futura princesa Tiana, no início da trama, tem como sonho a ser realizado a abertura de um restaurante, remetendo a permanências no imaginário de que as negras fica reservado o espaço da cozinha. Ainda sobre essa animação, notem que o príncipe, diferente de outros, só quer saber da boemia e por isso foi deserdado pelo pai.
Na animação A Princesa e o Sapo, a primeira princesa afrodescendente. Mas, verde? |
Quando anunciado, A PRINCESA E O SAPO gerou muita satisfação em famílias afrodescendentes pois garantiria para muitas meninas um referencial de princesa mais próximo, ao invés das clássicas princesas loiras ou brancas. Muitos se decepcionaram pois Tiana é transformada em sapo logo no início do filme só retornando ao corpo original nos últimos minutos da animação. Segundo alguns, ter a pele esverdeada não garantia identificação para as garotinhas afrodescendentes. Vale pensar mais sobre isso.
Desenhos animados não são inocentes e nem são apenas coisa de criança. A diversão é garantida e ideologias também.
Assista Educação para a morte:
e DER FUEHER'S FACE:
Pense fora da caixa.
Passe adiante.
Tenha HISTÓRIA NA CABEÇA.
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