Quando assistimos desenhos animados, filmes, seriados, provavelmente não percebemos ou imaginamos a carga ideológica por trás daquela produção. Há mais ideologia inserida nessas produções do que podemos considerar saudável.
Desenhos animados não devem ser considerados inocentes. Há muitas animações com mensagens inseridas que passam despercebidas e são voltadas para o público infantil. Com o avanço tecnológico, elas estão cada vez mais visualmente belas e com roteiros bem menos inocentes do que podemos supor.
Considerando a propaganda, a arma mais bem acabada do capitalismo, somos levados a comprar o que não precisamos, a desejar o que não tem serventia imediata, a querer. Pura e simplesmente querer. E são as crianças o alvo mais frágil a tais objetivos do capital.
Faça o seguinte teste: pare no horário da manhã, período em que os programas infantis estão no ar. Os intervalos estão recheados de propagandas dos brinquedos dos desenhos que são exibidos naquele horário. São bonecas e bonecos que se tornam incompletos se você não tiver o cavalo para a boneca, o carro para o boneco, a espada que brilha, o fogão que prepara a comidinha para alimentar o bebê brinquedo - todos vendidos separadamente.
Manipulando o interesse infantil, as propagandas não vendem o brinquedo, mas a criança feliz que o brinquedo é capaz de tornar. A carinha de felicidade da menina que tem a boneca para cuidar (não vamos tratar aqui da manutenção do papel maternal nessas peças publicitárias) não tem preço – usando a conhecida ode ao capitalismo.
Os interesses do capital, entretanto, não manipulam apenas as crianças, os pais são bombardeados com tais propagandas uma vez que após uma jornada de trabalho intensa, chegam em casa e, para suprir o sentimento de culpa por não ter mais tempo para os rebentos cedem aos desígnios dos filhos que passaram o dia em frente ao televisor. Em alguns casos, não é o sentimento de culpa que leva os mantenedores da família a fazerem isso, mas o desejo de “ocupar” a criança e não ter que dar a atenção que ela necessita.
A propaganda infantil vende um mundo que só vai trazer felicidade para as crianças se elas tiverem este ou aquele brinquedo. E não são apenas brinquedos, mas também roupas, sapatos, sandálias, mochilas, cadernos. Linhas completas de produtos com as personagens infanto-juvenis que são vendidas pela mídia.
Ora, qual a melhor maneira de garantir mercado consumidor? Formando consumidores no ninho. As crianças consumistas serão adultas consumistas e também idosas consumistas uma vez que já existem produtos direcionados ao grupo da “melhor idade” (com todas as ressalvas que o termo tem). E ainda dizem que Marx morreu.
Criança é CLIENTE |
As crianças são alvos para o mercado,o Shopping Plaza Casa Forte – Recife, por exemplo, veiculou sua propaganda de natal com estúdios de dublagem de desenhos animados Hanna-Barbera. Vale notar que em seus outdoors, o Plaza estampou fotos de meninos e meninas entre seus personagens e com a identificação de cliente. Ou seja, a criança também é cliente. Outros shoppings, e não é preciso muito esforço para lembrar, também usam deste artifício. Propagandas mostram crianças sozinhas comprando presentes para as mães, para os pais, para os avós. Há um conjunto de medidas que trabalham no sentido de transformar o shopping, lugar de compras por definição, em um ambiente familiar, quase um "habitat natural".
A rede pública de ensino não escapa das ações do capital: em Alagoas a lei nº 7.288 permite que empresas possam inserir suas marcas nos uniformes escolares da educação básica quando fornecerem materiais, realizarem reformas. É interessante destacar que a educação pública desse Estado tem um dos piores índices do Brasil. Enquanto o Estado negligencia suas funções, as empresas fazer o dever de casa com capricho.
Entre as melhores formas de atingir o bolso dos pais está ensinar seus filhos e filhas a querer. Mais do que divulgar um produto, a propaganda vende desejos múltiplos para crianças que não precisam crescer para exigir o que acreditam que querem e precisam: nasce um consumidor.
Assista:
PENSE FORA DA CAIXA.
TENHA HISTÓRIA NA CABEÇA.
* Texto: Liliane Nascimento e Salviano Feitoza
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